Nunca trabalhei CLT e não me arrependo



Esta história não é sobre mim, pois sou CLTRETA desde que me conheço por gente. Não eu não quero permanecer como CLTRETA para o resto da vida. Tenho muita consideração por pessoas que nunca trabalharam sob as rédias de um contrato e mesmo assim tem uma vida financeira estabilizada. Não digo tranquila pois engana-se quem pensa que estes não trabalham.

Sou natural da Bahia, mais precisamente de Feira de Santana uma terra cheia de belezas naturais tipicas de uma região semi-árida mas que reserva uma verdadeira surpresa nas  épocas de chuva. Rodeada de rios e nascentes este é o berço de muita gente animada e lutadora.

Como a cidade é uma tipica cidade do interior a maioria de sua população vivia da agricultura de subsistência e alguns poucos do comércio. Logo a grande maioria era praticante do êxodo rural se dirigindo a grandes cidades como São Paulo.

Meu pai foi um destes itinerantes que largou tudo na Bahia para se aventurar por aqui, mas o danado assim que me casei partiu para a terra querida e eu aqui estou.

Mas para quem não tem a coragem de ir para outra cidade ou estado resta apenas a criatividade e a força de vontade de ganhar o dendê de cada dia.

Como?

A cerca de 20 anos atras existia uma especie de profissional na quela região que fez pequenas fortunas vendendo panelas, tupperware, capa de sofá, tapete, cafeteira e muitos outros itens comumente vendidos em lojas. O engraçado é que não havia cartão de crédito, e a grande maioria dos clientes não tinham dinheiro para comprar no ato, mas parcelavam em uma especie de promissória. Não havia contrato escrito entre as partes era apenas confiança.
Mas de vez em quando uma dona descaradamente dizia não estar quando o cabra ia fazer a cobrança. E de muito passar na residencia o camarada se irritava e fazia tocaia pra quando a danada passar ser intimada.
"Dona, dona desavergonhada cadê meu dinheiro?"

O que se via era gritaria quando o cobrador entrava na casa a força e pegava o item em débito e saia da casa esbravejando. Dava dó quando o produto era panela e estava sendo utilizada as vezes com feijão. O mesmo era jogado fora na frente da devedora que de vergonha não tinha reação.

Alguns utilizavam o truque do medidor de energia. Na Bahia a empresa responsável pela distribuição é a Coelba. A grande maioria saia a porta quando o profissional responsável pela leitura do relógio gritava "Coelba".

Existia de tudo em Feira, vizinhos que vendiam geladinhos, pão caseiro, pessoas que saiam nas ruas vendendo vassouras, alho, coentro, alface, caju e toda especie de fruta. Há aqueles que vendiam vassouras de telhado, galinhas, patos e até mico estrela.

No centro ainda existe até hoje um grande comercio criado por ambulantes que lotam as ruas com os mais variados itens. Tem até caranguejo.

Existe também uma feira muita grande em Feira de Santana chamada de Feiraguai. Ganhou este nome devido aos produtos vendidos que em sua maioria oriundos do Paraguai. Já tive até tio atravessador, para quem não sabe atravessador é o profissional que ia até o Paraguai para comprar produtos e os trazia para os ambulantes de Feira.

O lutador João

O João é um grande amigo de infância, largou a escola logo cedo para trabalhar em uma pequena banca do feiraguai com seu pai. Vendia brinquedos, ventiladores e cigarro. A banquinha era simples mas continham uma grande variedade de itens. Sinceramente não entendia na época como era possível sustentar uma família com uma pequena banca de 1 metro.

Meu pai dizia que aquilo não era trabalho que jamais ele iria ficar parado em um lugar esperando o cliente, meu pai era do tipo citado acima, vendedor de porta em porta.

João cresceu sem nunca conhecer a história do Brasil, Física e química, mal sabe utilizar um computador. Aprendeu a negociar com fornecedores e técnicas de venda que seu pai e amigos lhe ensinaram. Enquanto os vendedores de porta em porta perdiam mercadoria devido a inadimplência João e seu pai faturavam com vendas a vista. Vendedores de porta em porta viviam caçando oportunidades em quanto João era encontrado pelo publico consumidor.

João cresceu juntando dinheiro e conhecimento, enquanto eu ia para a faculdade aqui em São Paulo para me tornar um bom profissional, João vendia sua moto para arrecadar dinheiro para compra de um pequeno ponto na Rua Maria Quitéria no centro.

Enquanto acordava as 6 da manha para ir a escola e depois ao trabalho e retornava pra casa apenas as 23. João acordava as 4 da manha para preparar os petiscos de seu novo negócio, mas as 18 joão encerrava e ia pro bar beber.

Aos 22 anos João tinha uma facilidade de comunicação incrível e muita lábia adquirida em sua labuta diária. Nunca fez faculdade mas aos 23 tinha adquirido uma caminhonete e já estava planejando a expansão de sua casa.

O encontro

Encontrei João em 2018 na Bahia e quando fui conversar com ele além de darmos muita rizada com todas as histórias contadas. João riu de minha vida cansada de 2 horas de trem para chegar ao trabalho. De depender de um salário fixo mensal, de responder a um superior, de ficar preso em uma sala. De sair de férias 1 vez por ano.

Hoje João continua acordando cedo, mas tem um gerente que cuida de seu estabelecimento. Ele administra o local algumas horas por dia pois gosta do contato com o publico e amigos. Mas quando quer viajar ele simplesmente pega sua Hilux coloca preso na carroceria a lancha e vai com destino a seu local preferido: Casa de praia em Cabo Sul.

Nunca trabalhou CLT e não tem problemas em falar os motivos.

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